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Resultado veio menos da metade do esperado pelo mercado, com pressão do dólar e queda em indicadores como produção e vendas; no quarto trimestre, prejuízo foi de R$ 17 bilhões
A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em evento sobre retomada da indústria naval em Angra dos Reis (RJ). – Eduardo Anizelli/Folhapress
A Petrobras registrou lucro de R$ 36,6 bilhões em 2024, queda de 70% em relação ao verificado em 2023.
A companhia diz que o resultado reflete a desvalorização do real frente ao dólar, que levou a um prejuízo de R$ 17 bilhões no quarto trimestre, contra lucro de R$ 33 bilhões no mesmo período do ano anterior.
Ainda assim, a estatal anunciou na quarta-feira (26/2), que vai distribuir mais R$ 9,1 bilhões em dividendos pelo resultado de 2024, elevando para R$ 75,8 bilhões o valor aprovado ao longo de 2024 para remuneração aos acionistas.
Os ADR (recibos de ações negociadas em Nova York) da Petrobras caíam 7,17% no after market por volta das 22h do dia 26/2, para US$ 13,29.
O lucro anual ficou menos da metade do projetado por bancos ouvidos pela Bloomberg, que esperavam US$ 14,6 bilhões (R$ 83 bilhões pela cotação atual).
A empresa decidiu realizar ainda na noite desta quarta uma teleconferência com analistas para explicar o desempenho.
A presidente da companhia, Magda Chambriard, disse no balanço que o resultado “se deve, fundamentalmente, a uma questão de natureza contábil que não afeta nosso caixa: a variação cambial das dívidas entre a Petrobras e suas subsidiárias no exterior”.
O resultado financeiro da companhia ficou negativo em R$ 82,5 bilhões. O diretor financeiro da estatal, Fernando Melgarejo, disse que é resultado de “operações financeiras entre empresas do mesmo grupo, que geram efeitos opostos que ao final se equilibram economicamente”.
“Isso porque a variação cambial nestas transações entra no resultado líquido da holding no Brasil e impactou negativamente o lucro de 2024. Ao mesmo tempo, houve impacto positivo direto no patrimônio”, disse.
Analistas ouvidos pela reportagem afirmam que o principal motivo para o prejuízo da estatal no quarto trimestre foi a desvalorização do real.
O dólar fechou 2024 cotado a R$ 6,179, com alta de 27,50% durante o ano. Nesta quarta, a moeda terminou o dia no valor de R$ 5,796.
“A queda no lucro é um efeito contábil apenas, por causa da parcela da dívida em dólar, que também sobe quando o dólar sobe. Só que isso não é o fim do mundo, porque a empresa vende petróleo em dólar”, afirma Ruy Hungria, analista da Empiricus.
Agora no primeiro trimestre, com a recente queda do valor da moeda americana em relação ao real, a tendência é que as contas se equilibrem.
“Prevejo que no primeiro trimestre de 2025 ela [a Petrobras] vai reportar um lucro tão grande que vai compensar o prejuízo do último trimestre”, diz Lucas Sigu Souza, sócio fundador da Ciano Investimentos.
Magda defendeu no balanço que “o excelente resultado operacional e financeiro de 2024 demonstra, mais uma vez, a capacidade da nossa empresa de gerar valores que são revertidos para a sociedade e para os nossos investidores”, afirmou a executiva.
Desconsiderando os eventos extraordinários, diz a Petrobras, o lucro de 2024 ficaria em R$ 102,9 bilhões, uma queda de 19,7% em relação ao lucro recorrente de 2023.
A diferença, afirmou a companhia, reflete a “deterioração do ambiente externo com a redução do preço do petróleo e das margens internacionais do segmento de refino, além de menores volume de produção de petróleo”.
Mas foi um ano de queda em indicadores operacionais importantes para a estatal.
A produção de petróleo caiu 3%, para 2,7 milhões de barris de óleo equivalente (somado ao gás) por dia, reflexo de paradas para manutenção em plataformas marítimas.
A Petrobras também registrou em 2024 queda nas vendas de dois de seus principais combustíveis: as vendas de gasolina caíram 4,1% e as de diesel, 2,8%.
O preço de venda da cesta de derivados produzida pela empresa caiu 4,6% em relação a 2024, para R$ 485,55 por barril.
As margens de suas duas principais áreas de negócio também caíram durante o ano.
A de exploração e produção ficou 5% abaixo de 2023 e a de refino teve queda de 2%.
Os dois segmentos tiveram forte queda de lucro no ano: no primeiro caso, de 13%, e no segundo, de 35,3%.
A estatal passou o ano com poucos reajustes nos preços dos combustíveis, apesar da forte volatilidade nos preços do petróleo.
Na gasolina, promoveu apenas um aumento. No diesel, nenhum —só veio a repassar a alta de custos sobre o produto no início de fevereiro.
A Petrobras disse que o valor dos dividendos é compatível com sua sustentabilidade financeira e está alinhado à sua política de remuneração aos acionistas, que prevê a distribuição de 45% do fluxo de caixa livre sempre que a dívida estiver menor do que teto indicado em seu planejamento estratégico.
A empresa fechou o ano com endividamento bruto, o indicador usado para definir dividendos, de US$ 60,3 bilhões (R$ 343 bilhões), queda de 3,8% em relação ao último dia de 2023.
Magda afirmou que a empresa vem ampliando investimentos, buscando “oportunidades de diversificação rentável” e dando primeiros passos no retorno à petroquímica, uma das missões que ganhou do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Estamos avançando nos estudos de parcerias com grandes players para a produção de etanol, além da iniciativa, também em colaboração com parceiros, para produção de e-metanol, que visa implantar a primeira planta em escala comercial no Brasil, entre outras iniciativas de descarbonização”, disse.
A Petrobras patrocinou nas últimas semanas duas cerimônias para apresentar investimentos ao lado de Lula, que vem rodando o país em busca de melhorar sua popularidade —a pior de suas três gestões, segundo institutos de pesquisas.
Nesses eventos, Magda tem prometido acelerar investimentos e apoiar a indústria nacional, um dos focos da visão desenvolvimentista de governos petistas para a estatal.
Redação CNPL sobre artigo de Nicola Pamplona / FSP
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