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Chefes já não perguntam, eles sabem: o monitoramento em tempo real dos funcionários

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  • 3 de março de 2025

O e-mail de Elon Musk para funcionários federais gerou angústia, mas muitos empregadores usam a tecnologia para ter um feedback contínuo sobre o desempenho dos trabalhadores

Elon Musk fala no Salão Oval, ao lado de Donald Trump. Foto: Reuters

O que você fez na semana passada?

A pergunta que Elon Musk fez aos trabalhadores federais em um e-mail desencadeou revolta e angústia de sindicatos e funcionários.

Também provocou alguns questionamentos no mundo corporativo americano, onde a tecnologia rastreia a produtividade do trabalhador em um nível granular para responder a essa pergunta em tempo real.

Com o clique de um botão, os gerentes podem verificar quantas propostas um vendedor fez na semana, a rapidez com que um representante de atendimento ao cliente resolveu uma reclamação ou o progresso de um engenheiro em uma tarefa que lhe foi atribuída.

Algumas empresas passaram a usar ferramentas sofisticadas de análise de dados para espionar seus funcionários, vasculhando milhões de e-mails, mensagens de bate-papo e compromissos na agenda para medir a produtividade.

Os executivos dizem que as informações garantem um feedback mais rápido e ágil, permitindo que distribuam os recursos de acordo com os dados.

A produtividade nos EUA tem aumentado, em parte por causa das novas tecnologias.

“As empresas foram além de pedir relatórios de status semanais por escrito e hoje têm responsabilização em tempo real”, disse Deidre Paknad, executiva-chefe da empresa de software WorkBoard.

Enquanto trabalhava na IBM, Paknad disse ter enfrentado o tédio de compilar relatórios semanais de status.

Como gerente, coletava informações de relatórios na quarta-feira para poder adicioná-las aos seus na quinta-feira (muitas vezes vasculhando agendas e e-mails para encontrar detalhes a serem incluídos). Então, seu gerente ajuntava tudo isso na sexta-feira.

Frustrada com a ineficiência, ela cofundou a WorkBoard em 2014. Entre os serviços oferecem: os gerentes recebem um relatório semanal automatizado na sexta-feira, que inclui instruções para elogiar funcionários com alto desempenho, e outro às 08h15 da segunda-feira delineando áreas que precisam ser priorizadas.

Para Erik Huddleston, CEO de marketing da empresa de tecnologia Aprimo, com sede em Austin, o feedback tem sido uma parte fundamental das sete empresas que ele montou.

A tecnologia que registra o progresso dos funcionários ao longo do dia torna o processo mais eficiente, sem ofender os funcionários.

“Não leva muito tempo para descobrir onde estão os gargalos, e você não precisa ser um grande chato para descobrir”, disse ele.

Quando lhe pediram para fornecer relatórios regulares de status, ele também se lembra de ter ficado irritado. “Você automaticamente pensa: ‘Sou um ser humano autônomo, me respeite!’”.

Agora, a tecnologia coleta todas essas informações à medida que o trabalho avança. “O chefe não precisa perguntar o que você fez na semana passada, porque está tudo lá no sistema”, disse ele.

Alguns departamentos federais também usam tecnologia para rastrear a produtividade dos funcionários.

Musk fez a pergunta antes em uma troca de texto com o ex-CEO do Twitter, Parag Agrawal.

Referindo-se a esse episódio, Musk postou recentemente no X: “Parag não fez nada. Parag foi demitido”.

Contudo, o pedido para entender o que os funcionários estão fazendo é lógico, disseram chefes e funcionários. Mas a abordagem é tudo.

“Não acho que seja um pedido irracional dizer às pessoas que pagam seu salário o que você fez para ganhá-lo, no entanto, o empregador deve ser extremamente cuidadoso no modo como pede e em como examina essas informações”, disse

Kyle H. David, CEO da KDG, empresa de serviços de tecnologia em Allentown, na Pensilvânia, com cerca de 60 funcionários.

Ele disse que uma abordagem como a de Musk pode dificultar atrair os melhores talentos. além de dar uma imagem distorcida do desempenho dos funcionários.

“Os seres humanos têm direito a semanas ruins, momentos de aprendizado, oportunidades de desenvolvimento, tempo para construir relacionamentos e uma infinidade de outras coisas que os tornam ótimos em seu trabalho, mas podem não aparecer bem em um relatório ‘o que você fez por mim ultimamente’”, disse ele.

É problemático pedir informações em autorrelatos de pessoas que têm medo de perder o emprego, diz Stacia Garr, cofundadora da empresa de pesquisa e consultoria de força de trabalho RedThread Research. Qualquer pessoa que precise relatar dados que possam ser usados contra ela provavelmente relatará informações que mostrem uma boa imagem de si mesma, não necessariamente priorizando informações que sejam a imagem completa, acrescentou.

As tecnologias de monitoramento também têm desvantagens, continuou ela. Elas podem medir apenas uma pequena parte da atividade, enquanto potencialmente abalam a confiança entre funcionários e gerentes.

Os funcionários se perguntam por que foram contratados para fazer o trabalho e depois acabam sendo desacreditados por aqueles que os contrataram, afirmou ela.

Jensen Huang, CEO da Nvidia, pede a todos seus empregados que enviem um e-mail diretamente para ele, mas sua pergunta é diferente.

Ele pede aos funcionários que enviem um e-mail com as cinco principais coisas nas quais estão trabalhando (chamados de T5T, ou top 5 things), pensando ou vendo em seus departamentos.

Huang lê centenas de T5Ts como uma forma de acompanhar como sua empresa está funcionando e ver o que está no horizonte.

Algumas pessoas ficaram ofendidas com a ideia de que a pergunta de Musk, cuja resposta precisava ser enviada até 23h59 da segunda-feira com o risco de perda de emprego, foi realmente uma declaração de que os funcionários federais não estão fazendo muita coisa.

“Parece que as pessoas não são confiáveis para fazer seu trabalho”, disse Ryan Graveline, que escreve guias how-to, documentos de melhores práticas e manuais do usuário em uma empresa de consultoria na Virgínia.

Alguns trabalhadores disseram que seu instinto seria pedir demissão se recebessem esse e-mail. Mas reconheceram que pode ser mais fácil falar do que fazer no mercado de trabalho atual, que esfriou significativamente.

Jensen Huang, CEO da Nvidia, pede que os funcionários enviem e-mails para ele com as 5 principais coisas em que estão trabalhando, pensando ou vendo em seus departamentos. Foto: David Paul Morris/Bloomberg

“Se meu chefe aprontasse essa, eu ficaria na dúvida entre manter meu sustento e manter minha dignidade”, disse Tyler Bray, desenvolvedor de software em Los Angeles. “Qualquer líder que pense que as ameaças são o caminho para a eficiência não entende como gerenciar as pessoas de forma eficaz.”

Jeffrey Sonnenfeld, reitor associado sênior de estudos de liderança da Escola de Administração de Yale, disse que via o e-mail de Musk como “hostil” e “ameaçador”, a antítese da boa gestão.

“É pior do que micro gerenciar, isso é mais como nano gerenciar. Quer dizer, o que eles vão fazer a seguir, perguntar o que os funcionários comeram naquela manhã?”, perguntar.

Outros disseram que não teriam problemas em responder ao pedido de Musk.

“Eu não hesitaria em mandar minha resposta; seu empregador tem todo o direito de pedir isso e você deve estar preparado para responder”, disse Peter Suh, gerente sênior de gerenciamento de risco do setor de serviços financeiros em Nova York.

“Mas, ao mesmo tempo, não tenho certeza se a maioria de nós, até mesmo eu, às vezes, conseguiria listar cinco coisas importantes nas quais está trabalhando agora”.

Quando Avi Singer viu a notícia sobre o e-mail de Musk, pensou: “se fosse minha equipe, levaria segundos para cada um responder”.

Eles poderiam simplesmente logar nas plataformas que usam durante o dia de trabalho e escolher as tarefas concluídas.

Singer, que mora em Nova York, emprega 40 pessoas em todo o mundo em sua empresa showd.me, que fornece conformidade on-line para organizações de saúde.

Sua equipe é totalmente remota, mas ele não se preocupa com o que todos estão fazendo.

“Um bom funcionário quer ser visto como produtivo”, disse Singer.

Registrar itens como reuniões, chamadas de clientes em potencial e propostas feitas em uma plataforma como o Salesforce mostra aos gerentes o que um funcionário tem feito, disse ele.

Se um vendedor não fecha um negócio há algum tempo, o sistema poderia mostrar que a pessoa havia feito dezenas de propostas e estava perto de um resultado, disse Singer.

Mitch Mitchem é CEO da HIVE Interactive, empresa que ajuda organizações como o time de beisebol Colorado Rockies com ferramentas de IA.

Ele diz que sua abordagem de gerenciamento envolve dar a seus funcionários mais autonomia.

Seus funcionários têm metas definidas para cada trimestre e podem atingi-las da maneira que acharem apropriada.

Se quiserem compartilhar seu progresso, há uma reunião semanal da equipe onde podem solucionar problemas ou obter conselhos.

“Eu os responsabilizo pela métrica e não pelo dia a dia”, disse Mitchem.

“Todo mundo é adulto — eu os vejo como uma comunidade, não como meus filhos”. 

Redação CNPL sobre artigo de Natasha Khan / InvestNews