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A integração é a base para a libertação da América Latina, diz Carlos Lessa

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O Memorial Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, foi palco – no segundo dia do Fórum Sindical Brasil-México 2013 – de um painel sobre as consequências do neoliberalismo nos dois países. Durante todo o dia de hoje, 17 de setembro, os economistas Carlos Lessa, Marivilia Carrasco e Ángel Palacios expuseram a realidade das duas nações, os efeitos causados pelo sistema do capital destrutivo e a necessidade de união de forças na América Latina para a supremacia da região.

Carlos Lessa abriu os trabalhos afirmando que a realidade capitalista deixa de lado os trabalhadores. Além disso, a manutenção dos salários baixos, segundo ele, interessa às empresas em processo de globalização.

“O discurso neoliberal propõe a liberdade da movimentação do capital, mas esta liberdade não alcança o trabalho. Sendo assim, tem-se uma barreira brutal para o processo de convergência e associação dos interesses dos trabalhadores no mundo”, explicou. Para o economista, a China é um exemplo dessa injustiça. “Lá a força sindical quase não existe. A mão de obra é muito forte, mas não há organização sindical, o que se torna um paraíso para as grandes empresas, uma vez que, por exemplo, não há controle da jornada de trabalho”, condenou. Combate à ameaça imperialista A manutenção das desigualdades no mundo é um objetivo estratégico dos países dominantes e da força do capital. No que diz respeito à América Latina, aponta Carlos Lessa, a geopolítica do mundo gira em torno do petróleo. “É preocupante a ameaça dos Estados Unidos sobre as empresas de petróleo do Brasil, Venezuela e México. Sob esta realidade, vejo um destino apavorante para nós”, revelou. O economista argumenta que a integração latino-americana é a base para a luta contra a dominação imperialista. “O sonho, o discurso e o desejo da integração dos povos ibero-americanos deveriam ser uma experiência extremamente forte em todas as dimensões de sociedade organizada que nós dispomos. Precisamos muito tratar esse assunto com a urgência que ele merece”, alertou. Pensar a longo prazo é essencial para a consolidação da força anti-imperialista, uma vez que, segundo Lessa, a América Latina está abrindo mão da possibilidade de projetos nacionais e de uma estratégia ibero-americana de desenvolvimento mais integrado. O instrumento de dominação passa pela debilidade dos estados nacionais, que contribui para a manutenção da fábrica de mão de obra barata e à disposição do capital. “Quem pode contrapor a civilização do capital – que tende ao genocídio, à destruição da sociedade – é a valorização da nossa identidade, dos nossos valores. Vivemos uma era que nos projeta a uma direção de barbárie”, revelou o economista. “Este fórum nos permite ouvir o que os mexicanos têm a nos dizer sobre a sua realidade. E diante desta perspectiva da opressão do neoliberalismo, a troca de experiências é essencial para o mundo do trabalho e para unir as organizações sindicais dos dois países”, concluiu Carlos Lessa. Cenário mexicano Mediada pelo diretor de finanças da CSB, Juvenal Pedro Cim, a segunda mesa de debates apresentou um panorama econômico do México e as consequências do neoliberalismo sobre o país. O dirigente saudou a possibilidade de um debate amplo. “É fascinante essa oportunidade de discussão sobre temas caros aos trabalhadores e aos povos da América Latina”, afirmou. Ángel Palacios, coordenador do Fórum de Guadalajara, apresentou o que o governo mexicano e a imprensa chamam de The Mexican Moment, teoria segundo a qual o México será a China do século 21. Para o economista, esta ideia é um sinônimo da realidade por que passa a América Latina. “Esta afirmação me dá tristeza, porque eles, definitivamente, não estão falando do México. Algumas variáveis macroeconômicas são positivas, mas isso foge da realidade do trabalho no meu país”, contestou. Palacios explica que cerca de 50 milhões de mexicanos vivem na pobreza, o que representa metade da população do país. “A dívida interna do setor público aumentou assustadoramente”, explicou. O montante, segundo o pesquisador, chega a 38% do PIB mexicano, o que equivale a mais de 6 bilhões de pesos. “Nos últimos 30 anos, o crescimento anual médio do México foi menor do que o do Haiti; o menor da América Latina”, contextualiza Ángel Palacios. A autonomia mexicana na produção de alimentos virou um triste passado. Graças ao Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA), nos próximos anos, o México deverá adquirir 80% dos seus alimentos em outros países, principalmente nos Estados Unidos. Para Palácios, reformas estruturais precisam ser feitas, mas não terão efeito algum em melhorar a vida dos trabalhadores se continuarem a seguir as formas do modelo econômico neoliberal. “Para tentar reverter este cenário, é preciso inverter as estruturas. Precisamos gerar empregos, e, para isso, o México precisa crescer”, argumentou. Efeito NAFTA Na mesma linha ideológica, Marivilia Carrasco foi categórica ao afirmar que o México perdeu direitos no setor trabalhista. “O país abandonou a soberania financeira quando privatizou suas empresas”, atestou a economista. Marivilia revela que a publicidade em torno do NAFTA serviu apenas para gerar promessas infundadas, como a geração de empregos na indústria e o aumento da participação no mercado, bem como o incremento das exportações. Tais projeções falaciosas contribuíram para o cenário de grandes taxas de desemprego e desrespeito aos direitos dos trabalhadores. “Ninguém queria mais negociar com os sindicatos. Criou-se uma economia informal, na qual os trabalhadores não tinham representação, não contribuíam para a previdência social e não pagavam impostos”, lamentou a palestrante. O cenário atual mexicano reitera o caráter destrutivo do capital. Os salários permanecem quase os mesmos da década de 1940, e a perda do poder aquisitivo trava a economia, os investimentos e o desenvolvimento nacional. “Querem resolver um problema dessa dimensão desfazendo-se do que ainda sobrou”, denunciou Marivilia Carrasco sobre a entrega da indústria petroleira mexicana aos Estados Unidos. Para ela, o petróleo não é um monopólio qualquer, e sim um recurso estratégico do México. A economista propõe, então, uma conjunção de forças. “Não são necessárias mudanças constitucionais, e sim na estrutura econômica. O povo mexicano precisa se unir, e precisamos da união latino-americana para conseguirmos sair da dominação do neoliberalismo”, sentenciou Marivilia. Falando em nome da União Mundial das Profissões Liberais – UMPL, seu presidente Francisco Antônio Feijó, que também é Tesoureiro-Geral da CNPL, participou do Painel Estratégias Sindicais Brasil-México, destacou que, tanto no Brasil como no México, os problemas na área sindical se assemelham. “As discussões são bastante semelhantes. No caso mexicano, vemos o instituto de terceirização já legalizado, enquanto aqui ainda está sob intenso debate. Por lá querem mexer na constituição para impor reformas contrárias aos trabalhadores e no Brasil volta e meia se fala em mexer na CLT com o mesmo objetivo”, explicou Feijó. Para o último dia do Fórum Sindical Brasil-México 2013 estão reservados debates sobre as Estratégias sindicais no Brasil e no México. As palestras ficarão sob a responsabilidade de Ernesto Germano Parrez, Antonio Alvarez Esparza e Juvenal Pedro Cim, e sob a mediação de João Alberto Fernandes, vice-presidente da CSB. Fonte: Site CSB

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