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Por Carlos Alberto Schmitt de Azevedo (*)

Pela primeira vez, em mais de seis décadas desde a sua fundação, a Confederação Nacional das Profissões Liberais – CNPL, representante única e legal de 51 categorias profissionais que reúnem mais de 15 milhões de trabalhadores não adere as comemorações referentes ao 1º de maio, Dia dedicado ao Trabalhador, pelo simples fato de que, sob nossa ótica, não existir motivos para comemorações.

Historicamente, o 1º de maio foi instituído como homenagem ao sacrifício extremo de trabalhadores americanos, em Chicago, no ano de 1886, que lutavam em busca de direitos mínimos, como jornada de 8 horas. A reivindicação foi sufocada com intolerância e sangue. O resultado dessa barbárie foi transformar a data em um símbolo da luta e da união dos trabalhadores de todo o mundo em prol do trabalho decente e digno.

Hoje, chegamos a uma quadra da história onde com o advento da nova “revolução industrial”, representada pelos avanços tecnológicos observadas em todas as áreas da produção de bens e serviços, onde vemos se moldar uma nova concepção das relações de trabalho e no próprio conceito do que seja o trabalho em si.

Automação, robótica, inteligência artificial e a crescente presença de aplicativos vêm, sitematicamente, fechando postos de trabalho, extinguindo ofícios e profissões, trazendo para o universo laboral o fantasma da precarização e excluindo, cada vez mais, o ser humano da cadeia produtiva, gerando insegurança e sofrimento para milhões de famílias de trabalhadores em escala global.

Tivemos a chance de observar os frutos desse sistema perverso neste 1º de maio de 2019 quando, ao redor do mundo, milhões de pessoas ocuparam ruas e praças não para comemorar ou festejar o trabalho ou o fato de estarem trabalhando, mas sim para protestarem contra a ganância e a insensibilidade do capital.

Assistimos atônitos a uma espécie de Uberização imposta goela abaixo pelo mercado àqueles que tentam fazer valer sua força de trabalho. Esse efeito Uber, representado pela flexibilização nas relações de trabalho, é a oferta de um serviço mais barato, quase sempre com uma remuneração aviltante para o profissional, sem nenhuma garantia, caracterizando de forma inequívoca uma inadmissível precarização dessa relação empregatícia.

Nós da CNPL, que representamos milhões de trabalhadores, não somos contra o progresso. Cremos firmemente que a grande utopia humana sempre foi calcada que o avanço tecnológico reverteria invariavelmente a favor do ser humano, lhe proporcionado uma vida mais digna, com mais tempo para sua família, acesso ao lazer e a cultura e as benesses de uma vida digna, devidamente recompensada por seu trabalho e esforço pessoal.

Infelizmente o que vivenciamos hoje é o mundo governamental, corporativo e patronal caminhando a passos largos para a extinção completa dos ditames do trabalho decente e da justiça social como vemos acontecer aqui e agora no Brasil, com o governo federal, através de seus diversos tentáculos, envidando esforços para mudar as regras previdenciárias, o desmonte das leis trabalhistas e a extinção do financiamento sindical, que deixa o trabalhador indefeso, sem representação e força frente ao patrão.

Isso não pode ser considerado como progresso ou modernização das relações de trabalho. Para nós, apesar dos inegáveis avanços tecnológicos, no campo humano e social vivenciamos uma viagem de volta a 1º de maio de 1886. Um retrocesso brutal.

A CNPL entende que a continuidade da luta pelo trabalho decente e autossustentável passa pelo soerguimento daqueles que defendem os trabalhadores e as categorias profissionais; passa necessariamente, também, pelo embate entre o intelecto e a determinação do ser humano contra a frieza e a lógica cruel da inteligência artificial.

Nesses pós-1º de maio de 2019, convidamos os profissionais liberais do Brasil e do mundo para que se reencontrem com suas entidades representativas, para que montem estratégias permanentes de qualificação e atualização profissional, para que caminhem par a par com o progresso e a justiça social. O futuro ainda não está escrito. Depende da nossa força, da nossa voz.

(*) Presidente da Confederação Nacional das Profissões Liberais – CNPL