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Donald Trump iniciou na segunda-feira, 20, seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos (EUA).
]Durante o primeiro governo, sua política comercial reconfigurou mercados globais, afetando diretamente o agronegócio brasileiro.
Agora, em meio a desafios como concorrência internacional, barreiras tarifárias e demandas de sustentabilidade, o agronegócio busca entender como os próximos quatro anos podem influenciar suas estratégias e parcerias comerciais.
Durante o primeiro mandato de Trump (2017 a 2021), foram impostas tarifas comerciais sobre a importação de diversos produtos chineses.
A decisão desencadeou uma guerra tarifária entre as duas potências, com Pequim retaliando os itens norte-americanos e tomando medidas permanentes para reduzir sua dependência de produtos agrícolas dos EUA.
Como efeito, setores agropecuários brasileiros foram beneficiados, em especial a soja.
Somente no primeiro ano do conflito comercial entre EUA e China, em 2018, as exportações brasileiras do grão para o mercado chinês registraram um aumento significativo.
De acordo com dados da Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais, os embarques totais da oleaginosa do Brasil alcançaram 101,3 milhões de toneladas, das quais 68,9 milhões de toneladas foram destinadas à China, representando aproximadamente 67,97% do total exportado.
Em termos de valor, as exportações totais de soja no período somaram US$ 40,7 bilhões, com US$ 27,4 bilhões provenientes das vendas para o mercado chinês, correspondendo a cerca de 67,41% do total.
No entanto, apesar de Trump já ter dito que irá adotar a mesma postura agora e impor novas tarifas contra a China, especialistas ouvidos pelo Agro Estadão, destacam que ainda é cedo para prever os efeitos das decisões do republicano para o agro brasileiro.
“Precisamos esperar as primeiras medidas que o governo Trump anunciará no campo das relações comerciais dos EUA, especialmente sobre eventuais tarifas sobre produtos da China e do México, que podem ter impacto direto nas exportações de soja e milho do Brasil, nas cotações desses produtos em Chicago e no câmbio”, afirmou Daniele Siqueira, analista de mercado da AgRural.
Siqueira ressalta que, atualmente, o Brasil possui uma produção de soja significativamente maior e já domina o mercado chinês.
Os EUA, por sua vez, já não exportam tanta soja como em 2018.
A China também não é mais a mesma, pois sua demanda por soja tem crescido a um ritmo mais lento, e seus estoques são amplos, acumulados ao longo de 2023 e 2024 devido aos preços mais baixos da soja.
“Caso haja uma nova guerra comercial entre os dois países, o Brasil provavelmente aumentará suas exportações de soja para a China, mas o avanço não deve ser tão grande como naquela época. Além disso, o impacto nos nossos prêmios de exportação provavelmente não será tão grande como em 2018”, explica a analista.
O sócio-diretor da MacroSector Consultores, Fabio Silveira, também enfatiza que os mercados estão operando em um cenário de expectativa cautelosa.
“Os preços agrícolas nos mercados futuros continuam operando em condições pré-Trump. Se você olhar a evolução de preço de soja, de algodão, de açúcar… são preços que estão tendendo a declinar no mercado internacional em 2025. O preço do café, no entanto, está alto, mas ele já vinha sofrendo pressão altista anterior. Quando a gente olha para esses preços, não há essa expectativa de aceleração”, ressalta Silveira.
O economista acrescenta que, o cenário de expectativa de alta de preços agrícolas deve ficar para o segundo semestre deste ano ou para o primeiro semestre de 2026, depois das primeiras medidas de Trump.
Outro aspecto que merece atenção é o posicionamento do governo Trump em relação aos biocombustíveis nos EUA.
Conhecido por priorizar os combustíveis fósseis e defender medidas que favoreçam a indústria petrolífera, o republicano tem historicamente adotado políticas que impactam diretamente a demanda por etanol e biodiesel.
Conforme a analista da AgRural, essas decisões podem, por sua vez, influenciar significativamente as cotações de commodities como soja e milho, que são bases para a produção de biocombustíveis.
Juros e inflação elevados nos EUA devem manter o dólar valorizado
Além dos efeitos da possível guerra comercial com a China e outros países, os primeiros sinais do governo Trump envolvem mais protecionismo, investimentos em infraestrutura e deportações em massa, fatores que devem gerar efeitos no dólar e nas commodities.
Os planos do republicano de aumentar os gastos com infraestrutura têm o potencial de gerar mais inflação nos EUA.
Como efeito, pode resultar em juros mais altos, com a curva de juros demorando mais a cair no país.
Para o economista Roberto Troster, o aumento dos juros norte-americano tende a manter o dólar valorizado, o que pode beneficiar os exportadores brasileiros, pois irão exportar o mesmo volume, recebendo mais reais por cada dólar das transações comerciais. No entanto, o cenário também traz desafios.
“Juros mais altos, de maneira geral, deprimem o preço das commodities e o custo de carregamento de estoques aumenta. Somando uma coisa com a outra, é razoável esperar dólar alto e mais instável”, salienta Troster. “[…]
Essas idas e vindas da política acabam prejudicando muito a estabilidade dos mercados financeiros.
Então, os fluxos financeiros ficam mais voláteis, o que é ruim para um agricultor ter essa incerteza cambial, ele não sabe a que preço vai comprar os insumos e a que taxa de câmbio ele vai exportar.
“Mas, de maneira geral, eu diria que para o setor agrícola, o quadro é neutro”, complementa o economista.
O especialista observa que é necessário também que o Brasil faça ajustes internos, com mudanças na política econômica para garantir um crescimento mais robusto e aproveitamento das oportunidades que surgem no cenário externo.
O economista Roberto Troster avalia os possíveis efeitos do novo governo Trump no agro brasileiro
Apesar dos desafios, receita agrícola deve registrar alta em 2025
Com o possível cenário de juros elevados nos EUA e uma taxa de inflação no Brasil projetada em 4,6% para o final de 2025, o sócio-diretor da MacroSector Consultores acredita que o setor agrícola enfrentará desafios.
No entanto, a perspectiva de aumento na produção de grãos deve resultar em um desempenho mais positivo em comparação aos últimos anos, dando um fôlego aos produtores.
A projeção da consultoria aponta para um crescimento de 14% na receita agrícola brasileira em 2025 em relação a 2024, atingindo R$ 1,11 trilhão.
Esse aumento deve ser impulsionado tanto pela elevação da produção de grãos, quanto pela alta dos preços agrícolas no mercado interno.
Estima-se que os preços domésticos (em reais) dos grãos tenham relevante acréscimo, impulsionados por um dólar médio que deve subir 15,9%, alcançando a marca de R$ 6,25 no final do ano.
Nesse sentido, a receita brasileira de grãos tende a crescer 21%, atingindo R$ 653,7 bilhões.
Por outro lado, a produção das lavouras permanentes, como cana e café, deve enfrentar uma expectativa de declínio, com alta de apenas 5% em receita, alcançando R$ 304,2 bilhões.
Ao mesmo tempo, os custos com insumos, especialmente fertilizantes, que são fortemente influenciados pela variação do câmbio, não devem representar um fator de pressão.
Segundo Silveira, o preço médio dos fertilizantes em 2024 foi 14% menor do que o valor médio de 2023.
Isso significa que, apesar da alta do câmbio, a pressão sobre os custos não deve ser tão significativa, especialmente quando comparado aos anos anteriores.
“Eu não vejo essa pressão ocorrendo, mesmo com esse câmbio de 15,9% maior, sendo uma ameaça para a rentabilidade do produtor agrícola. Porque vários desses segmentos terão importante aumento de produção”, pontua o sócio-diretor da MacroSector Consultores.
Redação CNPL sobre artigo de Sabrina Nascimento
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