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A Europa está adotando o novo modelo econômico dos EUA. E isso significa mais Estado

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  • 3 de outubro de 2024

Os planejadores econômicos da União Europeia podem querer gritar “EUA, EUA!”.

Ironicamente, porém, imitar os Estados Unidos significa hoje mais intervenção estatal.

A política do bloco foi abalada na semana passada depois que Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE) – e que levou os créditos por ter salvado a zona do euro em 2012 – publicou seu tão esperado relatório sobre como impedir uma estagnação econômica que foi agravada pela competição representada pelas exportações chinesas e pelo fim da energia russa barata.

Seu pedido por mais dívidas conjuntas já foi contestado pela Alemanha, algo que não é uma novidade. Mas isso é mera distração política.

O ponto crucial do relatório é que “a UE deve ter como objetivo se aproximar do exemplo dos EUA em termos de crescimento da produtividade e inovação”, destacando que não há nenhuma empresa europeia de capital aberto criada nos últimos 50 anos que tenha um valor de mercado superior a 100 bilhões de euros, o que equivale a US$ 111 bilhões.

Nos Estados Unidos, Apple, Microsoft, Nvidia, Amazon, Alphabet e Meta Platforms ultrapassam, cada uma, o US$ 1 trilhão em valor de mercado.

O que significa se aproximar dos EUA?

Draghi enfatizou a importância do setor de tecnologia, dizendo ser ele o responsável por quase todo o desempenho superior da produtividade americana nos últimos 20 anos.

Ele argumenta que “a Europa não pode se dar ao luxo de ficar presa” a velhas indústrias. 

PIB per capta na União Europeia em relação ao PIB per capta dos Estados Unidos

Essa ênfase em um único setor é um grande afastamento do status quo pós-1980, que promoveu o livre mercado, o empreendedorismo e as políticas destinadas a impulsionar toda a economia europeia, como a educação da força de trabalho e a construção de infraestrutura.

Essa visão está consagrada na própria fundação da União Europeia, o Tratado de Maastricht de 1992.

Porque os EUA são mais produtivos é uma questão antiga.

Ela surgiu em 1928 com Allyn Young, catedrático americano da London School of Economics.

Em um discurso, ele negou que a diferença tivesse a ver com as empresas americanas serem mais bem administradas.

“O maior mercado doméstico do mundo”, argumentou ele, significava que “os métodos produtivos são econômicos e lucrativos nos EUA, e não seriam lucrativos em outro lugar”.

Com o tempo, isso levaria ao surgimento de indústrias mais complexas nos Estados Unidos.

A conclusão é que as empresas só farão grandes investimentos para aumentar a produtividade se estiverem operando em setor em franco crescimento, onde tais investimentos fazem sentido.

É por isso que, compara dos Estados Unidos, a Europa tem taxas de investimento menores em setores que não estão relacionados à construção.

Ao longo dos últimos anos, o Top 3 das empresas europeias que mais investem tem sido composto por companhias de petróleo e fabricantes de carros.

Já nos Estados Unidos, as empresas que mais investem em Pesquisa & Desenvolvimento foram dos setores automobilístico e farmacêutico nos anos 2000, seguidos dos setores de software e hardware na década de 2010 e, mais recentemente, a indústria de aplicativos.

Valor de mercado por setor econômico na composição dos índices acionários Stoxx Europe 600 e SP 500

Formação Bruta de Capital Fixo como porcentagem do valor adicionado – diferença entre a União Europeia e os Estados Unidos

Mas, para os países, não é fácil entrar nesses setores muito complexos.

O aumento do retorno de escala – conceito referente à eficiência econômica de uma empresa, setor ou atividade – cria uma barreira natural para qualquer novo empreendedor.

De fato, esse novo mundo de companhias winner-take-all – no qual as empresas líderes praticamente dominam setores inteiros da economia –, de desequilíbrios comerciais arraigados e de concentração em algumas poucas áreas metropolitanas não pode ser totalmente explicado por vantagens comparativas, nem mesmo pelo impacto de taxas de câmbio e fluxos de capital desalinhados.

Tampouco a história de qualquer nação que já tenha tentado recuperar o atraso econômico.

Apesar de seu perfil laissez-faire durante a fase em que tentou alcançar o Reino Unido no século 19, os EUA foram um fervoroso proponente do protecionismo industrial. Sucessos mais recentes, como Japão e Coreia do Sul, dependeram fortemente de setores favorecidos pelo Estado e de mercados de exportação.

Os Estados Unidos foram defensores do livre comércio multilateral na segunda metade do século 20 e tiveram amplos incentivos para fazê-lo até muito recentemente. Suas empresas do Vale do Silício – em parte criadas por conta investimentos feitos anteriormente pelos militares –, usaram essas cadeias econômicas para se tornarem campeãs mundiais.

Contudo, os EUA começaram a mudar de ideia quando a China se tornou um concorrente direto.

Subsídios industriais e um vasto mercado doméstico estão ajudando o país asiático a inundar os mercados globais com veículos elétricos, painéis solares e outras tecnologias avançadas feitas a um custo inatingível para concorrentes ocidentais que não têm escalas tão grandes.

Média das tarifas de impostos em produtos industriais para países desenvolvidos nos seus estágios iniciais de desenvolvimento

A resposta veio primeiro por meio das tarifas impostas por Donald Trump, e depois com a Lei de Chips e Ciência e com a Lei de Redução da Inflação, ambas do presidente Biden, que injetaram dinheiro federal nas indústrias domésticas de semicondutores, de veículos elétricos e de energia limpa.

Apesar das dores do crescimento, como mostram os problemas da Intel, o resultado foi um boom no desenvolvimento da manufatura.

Mas a UE não conseguiu reagir na mesma medida, paralisada pela governança fraturada, pelos interesses corporativistas da Alemanha na China e na Rússia e também por acreditar piamente em sua própria propaganda de livre mercado.

A imagem de grande tecnocrata de Draghi lhe dá uma chance de mudar isso ao mesmo tempo em que evita uma atitude destrutivamente protecionista.

Para isso, o documento de 400 páginas propõe uma política comercial baseada na “análise caso a caso” do que aumentará o crescimento da produtividade, e uma estratégia industrial

Redação CNPL  com informações do Portal expresso.arq.br