Generic selectors
Somente termos específicos
Buscar em títulos
Buscar em conteúdo
Post Type Selectors
Buscar em posts
Buscar em páginas

A Europa está adotando o novo modelo econômico dos EUA. E isso significa mais Estado

Outras notícias

...

Programa voltado a crédito para mulheres supera R$ 700 milhões em empréstimos

Desde 2023, Programa Elas já atendeu mais de 35 mil clientes Financeira Omni&Co, criadora do Programa Elas quer atingir R$…

Decisão do Carf sobre terceirização em atividade-fim sofre anulação pelo STF

Decisão no Carf manteve a autuação com o argumento de que a prestação de serviços tinha características de vínculo empregatício…

Tragédias climáticas como no Rio Grande do Sul expõem falhas de proteção no Brasil

Frequência de eventos extremos pressiona preços, modelos de risco e revela lacuna de proteção na região, aponta CEO da Swiss…

Oferta da Azul pode ser a maior no País em quase 2 anos e terá bônus de subscrição grátis

Emissão pode movimentar R$ 4,1 bilhões, dependendo do apetite dos investidores Segundo fontes, há interesse de fundos e gestoras nos…
  • 3 de outubro de 2024

Os planejadores econômicos da União Europeia podem querer gritar “EUA, EUA!”.

Ironicamente, porém, imitar os Estados Unidos significa hoje mais intervenção estatal.

A política do bloco foi abalada na semana passada depois que Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE) – e que levou os créditos por ter salvado a zona do euro em 2012 – publicou seu tão esperado relatório sobre como impedir uma estagnação econômica que foi agravada pela competição representada pelas exportações chinesas e pelo fim da energia russa barata.

Seu pedido por mais dívidas conjuntas já foi contestado pela Alemanha, algo que não é uma novidade. Mas isso é mera distração política.

O ponto crucial do relatório é que “a UE deve ter como objetivo se aproximar do exemplo dos EUA em termos de crescimento da produtividade e inovação”, destacando que não há nenhuma empresa europeia de capital aberto criada nos últimos 50 anos que tenha um valor de mercado superior a 100 bilhões de euros, o que equivale a US$ 111 bilhões.

Nos Estados Unidos, Apple, Microsoft, Nvidia, Amazon, Alphabet e Meta Platforms ultrapassam, cada uma, o US$ 1 trilhão em valor de mercado.

O que significa se aproximar dos EUA?

Draghi enfatizou a importância do setor de tecnologia, dizendo ser ele o responsável por quase todo o desempenho superior da produtividade americana nos últimos 20 anos.

Ele argumenta que “a Europa não pode se dar ao luxo de ficar presa” a velhas indústrias. 

PIB per capta na União Europeia em relação ao PIB per capta dos Estados Unidos

Essa ênfase em um único setor é um grande afastamento do status quo pós-1980, que promoveu o livre mercado, o empreendedorismo e as políticas destinadas a impulsionar toda a economia europeia, como a educação da força de trabalho e a construção de infraestrutura.

Essa visão está consagrada na própria fundação da União Europeia, o Tratado de Maastricht de 1992.

Porque os EUA são mais produtivos é uma questão antiga.

Ela surgiu em 1928 com Allyn Young, catedrático americano da London School of Economics.

Em um discurso, ele negou que a diferença tivesse a ver com as empresas americanas serem mais bem administradas.

“O maior mercado doméstico do mundo”, argumentou ele, significava que “os métodos produtivos são econômicos e lucrativos nos EUA, e não seriam lucrativos em outro lugar”.

Com o tempo, isso levaria ao surgimento de indústrias mais complexas nos Estados Unidos.

A conclusão é que as empresas só farão grandes investimentos para aumentar a produtividade se estiverem operando em setor em franco crescimento, onde tais investimentos fazem sentido.

É por isso que, compara dos Estados Unidos, a Europa tem taxas de investimento menores em setores que não estão relacionados à construção.

Ao longo dos últimos anos, o Top 3 das empresas europeias que mais investem tem sido composto por companhias de petróleo e fabricantes de carros.

Já nos Estados Unidos, as empresas que mais investem em Pesquisa & Desenvolvimento foram dos setores automobilístico e farmacêutico nos anos 2000, seguidos dos setores de software e hardware na década de 2010 e, mais recentemente, a indústria de aplicativos.

Valor de mercado por setor econômico na composição dos índices acionários Stoxx Europe 600 e SP 500

Formação Bruta de Capital Fixo como porcentagem do valor adicionado – diferença entre a União Europeia e os Estados Unidos

Mas, para os países, não é fácil entrar nesses setores muito complexos.

O aumento do retorno de escala – conceito referente à eficiência econômica de uma empresa, setor ou atividade – cria uma barreira natural para qualquer novo empreendedor.

De fato, esse novo mundo de companhias winner-take-all – no qual as empresas líderes praticamente dominam setores inteiros da economia –, de desequilíbrios comerciais arraigados e de concentração em algumas poucas áreas metropolitanas não pode ser totalmente explicado por vantagens comparativas, nem mesmo pelo impacto de taxas de câmbio e fluxos de capital desalinhados.

Tampouco a história de qualquer nação que já tenha tentado recuperar o atraso econômico.

Apesar de seu perfil laissez-faire durante a fase em que tentou alcançar o Reino Unido no século 19, os EUA foram um fervoroso proponente do protecionismo industrial. Sucessos mais recentes, como Japão e Coreia do Sul, dependeram fortemente de setores favorecidos pelo Estado e de mercados de exportação.

Os Estados Unidos foram defensores do livre comércio multilateral na segunda metade do século 20 e tiveram amplos incentivos para fazê-lo até muito recentemente. Suas empresas do Vale do Silício – em parte criadas por conta investimentos feitos anteriormente pelos militares –, usaram essas cadeias econômicas para se tornarem campeãs mundiais.

Contudo, os EUA começaram a mudar de ideia quando a China se tornou um concorrente direto.

Subsídios industriais e um vasto mercado doméstico estão ajudando o país asiático a inundar os mercados globais com veículos elétricos, painéis solares e outras tecnologias avançadas feitas a um custo inatingível para concorrentes ocidentais que não têm escalas tão grandes.

Média das tarifas de impostos em produtos industriais para países desenvolvidos nos seus estágios iniciais de desenvolvimento

A resposta veio primeiro por meio das tarifas impostas por Donald Trump, e depois com a Lei de Chips e Ciência e com a Lei de Redução da Inflação, ambas do presidente Biden, que injetaram dinheiro federal nas indústrias domésticas de semicondutores, de veículos elétricos e de energia limpa.

Apesar das dores do crescimento, como mostram os problemas da Intel, o resultado foi um boom no desenvolvimento da manufatura.

Mas a UE não conseguiu reagir na mesma medida, paralisada pela governança fraturada, pelos interesses corporativistas da Alemanha na China e na Rússia e também por acreditar piamente em sua própria propaganda de livre mercado.

A imagem de grande tecnocrata de Draghi lhe dá uma chance de mudar isso ao mesmo tempo em que evita uma atitude destrutivamente protecionista.

Para isso, o documento de 400 páginas propõe uma política comercial baseada na “análise caso a caso” do que aumentará o crescimento da produtividade, e uma estratégia industrial

Redação CNPL  com informações do Portal expresso.arq.br